Os mundos do (sub)desenvolvimento mapeia, de modo crítico e empírico, as principais dinâmicas do colonialismo tardio nas colónias portuguesas de Angola, Guiné e Moçambique (1945-1975) e o modo como estas sobreviveram aos processos de descolonização, condicionando as sociedades pós-coloniais. Articulando diferentes escalas analíticas, do internacional ao local, e convocando os inúmeros actores e redes que entre elas circularam, o projecto estuda as manifestações e o impacto da pluralidade de programas, iniciativas e doutrinas de 'modernização' política, económica e sociocultural durante os anos finais do império, assim como das suas ressonâncias e legados, recorrendo a diversos tipos de fontes e arquivos. Englobando contextos rurais e urbanos, e suas intersecções, interroga-se o modo como o desenvolvimentismo colonial se articulou com o conjunto de políticas da diferença, características de todos os impérios coloniais europeus contemporâneos. As dinâmicas de continuidade e mudança, as instrumentalizações e reapropriações de linguagens e modelos de desenvolvimento que marcaram a transição para as independências são preocupações investigativas centrais. De igual modo, recentra-se a história do colonialismo português tardio através da inclusão de processos mais recuados no tempo, questionando a rígida baia cronológica associada ao início dos conflitos militares nos anos 60. O projecto foca-se ainda na mútua constituição e permanente interacção entre práticas e regulamentos locais, políticas imperiais e modalidades de intervenção política e técnica de entidades internacionais e transnacionais, para o que contribuiem as competências versáteis da equipa de investigação. Estas últimas também permitem que o desenvolvimentismo colonial português seja interrogado de modo comparativo por relação com outros impérios, facilitando ainda a análise de processos de circulação de conhecimento técnico-científico e de políticas sociais ou de instâncias de cooperação interimperial. Estes processos são relacionados com a emergência concorrencial de linguagens e modelos desenvolvimentistas à escala global, nomeadamente em diversas organizações internacionais e transnacionais.
Este projecto sustenta-se numa larga rede de investigadores experimentados, nacionais e internacionais, que, desta forma, expandem as suas investigações em domínios concretos do colonialismo tardio europeu e exploram novos cruzamentos analíticos, através de exercícios comparativos ou combinando objectos de estudo que são frequentemente estudados de modo isolado. Serão três as linhas de pesquisa que merecem atenção particular: As terras do trabalho: trabalho, propriedade e território; Os direitos da exclusão: cidadania, desenvolvimento e segurança; As oficinas das almas e dos corpos: educação, cultura e ciência. O estudo das variadas interdependências históricas entre estes fenómenos também constitui um objectivo primordial deste projecto de investigação.